Coluna Santista: A mudança no estatuto do Santos e o risco da “Belmirolândia”

Com “desculpa” da SAF, conselheiros do Santos querem fazer mudanças bizarras no Estatuto

Não quero aqui fazer nenhuma acusação — até porque, se o fizesse, provavelmente acabaria processado, e com razão. Mas posso, sim, expressar uma opinião: algo nessa história de mudança do estatuto do Santos não está me cheirando bem.

Desde que começaram as discussões sobre uma possível adequação do estatuto à realidade da SAF, a sensação é de que esse discurso de “modernização” vem acompanhado de um movimento silencioso de fechamento político dentro do clube.

A impressão que fica — e é apenas uma impressão — é de que o Santos caminha para se tornar cada vez mais restrito, um clube voltado a um pequeno grupo de poder, uma espécie de “Belmirolândia”. Um ambiente em que apenas quem está dentro das muralhas da Vila Belmiro pode decidir os rumos do time, enquanto o torcedor comum, aquele espalhado pelo Brasil, vai sendo deixado de lado.

Historicamente, o Santos sempre se orgulhou de ser um clube do povo, aberto, plural e com alma praiana, mas coração nacional. No entanto, as novas regras propostas — como a ampliação do tempo mínimo de associação para direito a voto e a exigência de mandatos prévios para candidatura — parecem ir na direção oposta.

Não se trata apenas de estatuto, mas de representatividade. Um clube que se fecha demais em si mesmo corre o risco de perder o contato com quem realmente o sustenta: o torcedor.

E, cá entre nós, quando um clube começa a falar demais em “governança”, “profissionalização” e “modernização”, mas a base da decisão continua sendo tomada pelos mesmos rostos de sempre, o torcedor tem todo o direito de desconfiar.

O Santos precisa se reinventar, sim. Precisa se adaptar ao futebol moderno, também. Mas precisa, acima de tudo, continuar sendo o Santos: um clube feito de gente, de paixão e de voz — não de muros e gabinetes.