Opinião | Robinho Jr. merece ser visto por quem ele é no Santos — não por quem foi seu pai

Na última semana, a jornalista Milly Lacombe, em sua coluna no UOL, criticou a comoção em torno da estreia de Robinho Jr. pelo Santos, especialmente pela forma como a imprensa esportiva evocou memórias de seu pai, Robinho, condenado e preso por estupro coletivo na Itália. Segundo Lacombe, os elogios ao talento do filho não deveriam vir acompanhados da exaltação de um passado manchado por um crime gravíssimo.

É uma reflexão válida. Trazer o nome de Robinho como referência puramente esportiva, ignorando sua condenação judicial, é, de fato, um desrespeito com todas as vítimas de violência sexual. Mas há um ponto de inflexão nesse debate que precisa ser destacado — e que a própria Milly reconhece, ainda que contraditoriamente: o garoto não tem culpa.

Foto: Divulgação Santos
Foto: Divulgação Santos

A joia do Santos está em formação

Robinho Jr. tem apenas 17 anos. Está em formação, não só como atleta, mas como cidadão. Jogar sobre ele o fardo dos atos criminosos do pai é não só injusto, mas também cruel. Ao mesmo tempo em que se afirma que ele “tem direito a uma vida plena e de sucesso”, a crítica da colunista acaba por limitar esse direito, exigindo que ele renegue seu próprio nome — e isso, convenhamos, diz mais sobre nossa sede por punição coletiva do que sobre a busca por justiça.

O Santos, ao permitir que o garoto mantenha o apelido que carrega desde pequeno, talvez não tenha errado. O clube, como qualquer outro, precisa aprender a lidar com temas sensíveis com mais sensibilidade, sim. Mas a solução talvez não seja apagar a identidade de alguém inocente — e sim reforçar o compromisso com a memória, a verdade e a justiça, separando de forma clara o que é homenagem e o que é responsabilidade.

Robinho Jr. não é o pai. E tentar apagar sua presença por causa do sobrenome é repetir, sob outro disfarce, a mesma lógica de exclusão que tantos dizem combater.

Foto: Raul Baretta/SFC
Foto: Raul Baretta/SFC

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