Santos: Como um pênalti no Maracanã virou um dos momentos mais marcantes do futebol

Há 56 anos, o futebol mundial assistia a um dos momentos mais marcantes da carreira do maior craque do Santos, Pelé — e, para muitos, o instante simbólico que transformou o Rei definitivamente em patrimônio do esporte. Em 19 de novembro de 1969, no Maracanã lotado, o camisa 10 do Santos marcou seu milésimo gol, contra o Vasco, em um episódio que até hoje desperta emoção, debates e lembranças inesquecíveis.

A contagem regressiva que parou o país

A expectativa pelo gol 1000 ganhou força meses antes. O jornalista Thomaz Mazzoni, de A Gazeta Esportiva, foi o primeiro a alertar que Pelé se aproximava da marca histórica — e, a partir dali, a imprensa passou a acompanhar cada partida do Santos como se fosse um capítulo decisivo de uma novela nacional.

O clima era de ansiedade, quase de vigília. A cada jogo, a pergunta se repetia: “Será hoje?”

Foto: Redes Sociais Santos
Foto: Redes Sociais Santos

O pênalti que entrou para a eternidade

E foi diante do Vasco, no Maracanã, que o momento finalmente chegou. Em cobrança de pênalti, Pelé bateu firme. O goleiro argentino Andrada até acertou o canto, quase defendeu, mas a bola morreu no fundo da rede. O estádio explodiu em festa, fogos, aplausos e emoção.

Em sua autobiografia, o Rei descreveu o instante com detalhes que atravessam gerações:

“Corri direto para o fundo da rede, peguei a bola e a beijei. O estádio era uma explosão de rojões e gritos. De repente, me vi cercado por uma imensa multidão de repórteres.”

A comemoração foi tão intensa que o jogo ficou paralisado por 20 minutos. Pelé deu a volta olímpica carregado nos ombros, segurando a bola como um troféu histórico. Torcedores do próprio Vasco correram para presenteá-lo com uma camisa cruz-maltina com o número 1000 às costas — peça que ele vestiu imediatamente, mesmo achando o momento “estranho”.

A dedicatória do craque do Santos que gerou polêmica

Minutos após o gol, Pelé dedicou o feito às crianças pobres do Brasil, pedindo que o país cuidasse de seus pequenos — frase que entrou para a história, mas também gerou críticas à época. Houve quem acusasse o Rei de “demagogia”.

Anos depois, Pelé explicou o porquê da homenagem improvisada:

“Era aniversário da minha mãe naquele dia, e talvez eu devesse ter dedicado o gol a ela.
(…) Me lembrei de uns garotos tentando roubar um carro em Santos meses antes. Isso me marcou. Na hora, as crianças vieram à minha cabeça.”

A reflexão segue sendo discutida, reinterpretada e analisada, mas revela um Pelé humano, espontâneo e sensível ao momento.

Foto: Redes Sociais
Foto: Redes Sociais

Um capítulo que nunca se apaga

O milésimo gol não foi apenas uma marca estatística. Foi um acontecimento social, cultural e esportivo. Um episódio que paralisou o país, emocionou milhões e consolidou Pelé como a maior figura da história do futebol.

Mais de meio século depois, o lance segue vivo na memória nacional — e continuará sendo revisitado sempre que a palavra Rei for mencionada.